sábado, 26 de maio de 2012

A Legião Urbana e a minha história de PJ

Fui adolescente nos anos de 1980 e jovem nos anos de 1990. Quase nesta virada de décadas eu conheci a Pastoral da Juventude. Foi neste mesmo período que eu entrei no que hoje se chama ensino médio. E foi na confraternização de fim de ano da minha sala que eu ganhei a minha primeira fita cassete (pronuncia-se K7) da Legião Urbana. Não sabe o que é uma fita cassete? Clique aqui e veja. Não sabe o que é a Legião Urbana? Veja aqui  e depois volte para este artigo.

Creio que seja bem provável que, caso você não saiba quem é a Legião Urbana, ao menos já tenha ouvido alguma de suas músicas. Muitas delas rolam em nossos encontros pastorais (Pais e filhos, Que país é esse, Índios, Será, Perfeição, por exemplo). Renato Russo, o vocalista e principal letrista do grupo, foi um referencial para boa parte da minha geração. Suas composições falavam e pareciam escritas para nossas angústias e situações adolescentes e juvenis.

Desde esta primeira fita cassete, eu passei a acompanhar de perto a carreira da Legião. Todo disco a ser lançado era de uma espera ansiosa. Todas as faixas eram ouvidas e decoradas. Os discos e fitas anteriores eram compartilhados entre os amigos. E as letras eram interpretadas a nosso bel prazer. Umas eram mais diretas (E há tempos são os jovens que adoecem. E há tempos o encanto está ausente...), enquanto outras davam linha a diversas interpretações (Vamos deixar as janelas abertas, deixar o equilíbrio ir embora...).

Como eu disse, muitas destas canções falavam (ou a gente interpretava assim) de nossos sentimentos à época. Outras ainda falam hoje. Umas nos fazem viajar no tempo, trazendo lembrança de fatos e pessoas. E outras ainda são capazes de ajudar a iluminar o presente. E é o que eu gostaria de partilhar com vocês a partir da música “Metal contra as nuvens”.

Trata-se da música mais longa da Legião. É maior até que Faroeste Caboclo (na duração, não nos versos). Se você colocar num buscador da internet encontrará diversas interpretações a respeito da letra. Uns dizem que se trata de uma representação da história dos Cavaleiros templários e sua relação com as Cruzadas e a Igreja Católica. Outras apontam que se trata da decepção que o país teve com o desenrolar do governo Collor.

A riqueza de muitas letras da Legião reside também aí. A minha interpretação é puramente pessoal e pastoral. Ela aponta para um período concreto que vivi posteriormente ao lançamento da música. Tratava-se do ano de 2004 e do fim da organização da PJ na diocese de São Miguel Paulista.

Nos dois anos anteriores conseguimos um grau de organização e comprometimento que éramos tidos na diocese como um grupo profundamente articulado, inclusive com outras pastorais. Isso nos deu um grau de autossuficiência. Passamos a articular passos maiores. Foi quando nosso padre assessor diocesano pediu para sair.

Ele não nos deu maiores explicações do que o motivou a tomar esta decisão. Coincidentemente ou não, passamos a ser bombardeados em reuniões onde antes éramos bem vindos. Passamos a não ser mais convidados. O padre secretário diocesano de pastoral seria substituído naquele ano também. Havia três indicações. Só uma delas apontava para um padre simpático à PJ. Ele acabou ficando com a secretaria.

Pensamos que este período ruim de críticas negativas iria passar. Ao contrário, ficou muito mais conturbado. Quem a gente achava que era aliado, passou a fugir de nós quando tentávamos marcar qualquer reunião. Não sabíamos o que tínhamos feito de errado. Outro assessor foi nomeado para nos acompanhar, mas nunca apareceu. Aliás, fazia o trabalho de oposição a nós. Estávamos sós.

Continuamos com o nosso trabalho quando fomos informados de que outra organização juvenil seria feita na diocese e da qual a atual coordenação diocesana não poderia participar. Tentamos nos organizar. Fomos às reuniões que eles marcavam, mas éramos expulsos, mesmo dizendo que a nossa paróquia de origem tinha nos indicado a participar. Nossa turma não se abatia e não se entregava tão facilmente. O que os padres não entendiam é que em nosso coração pejoteiro ardia o fogo aceso pela mensagem de Jesus. E o que não entendíamos é porque tudo aquilo estava acontecendo.

Após um ano de luta e desencontros, minha companheira adoeceu de tanto estresse. Na época ela era a assessora leiga da equipe. Apesar disso, conseguimos marcar uma assembleia diocesana de PJ para lançar os projetos do ano seguinte e eleger uma nova coordenação. Os projetos foram votados e nunca colocados em prática. A nova coordenação não foi eleita até a presente data.

A PJ de São Miguel virou terra de ninguém. A turma que estava na coordenação teve que sair. Ninguém assumiu o lugar. Anos mais tarde foi implantado o Setor Juventude, sem uma PJ organizada para poder fazer parte deste conjunto.

Ainda hoje, em alguns ambientes se ouve falar mal da pastoral. Críticas infundadas de gente que ouviu gente comentar que outra gente disse... Um conto aumentado de muitos pontos.

Mas aquela turma não se entregou. Muitos deles, inclusive eu, passamos a fazer parte de uma ONG que trabalha a formação da juventude na linha que aprendemos na PJ. Continuamos nosso trabalho e somos referência estadual em algumas atividades que realizamos. Isso ajuda a aliviar e a tocar em frente. Na verdade tudo passa.

Se você puder, veja o vídeo e tente perceber algumas coincidências desta história com a letra da música. Se não puder assistir, veja a letra clicando aqui. E continue depois para saber como a história continuou.



E para podermos tentar entender os meandros da história, hoje a PJ foi autorizada pelo atual bispo diocesano a se reorganizar aqui em São Miguel. Há uma nova geração, com garra renovada e o mesmo carisma pejoteiro. E creio que para ambos os casos, letra e história, cabem os versos finais para concluir o texto.

E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos.
O mundo começa agora
Apenas começamos.

3 comentários:

  1. Parabéns, pelo texto, sempre encontro muitas das questões que apresenta em nosso contexto aqui... e servem como questionamentos em relação a caminhada, avaliação, e até de entusiasmo, em saber que nossas dificuldades de hoje, já foram passadas por mais pessoas, e que além de terem passado por isso, conseguiram superar e dar a volta por cima...

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  2. Rogério ... Nem sei como falar ... mas parabénizar por fazer com que me alegre lendo esse artigo e pelos anteriores... E principalmente partilhar um pouco o que foi a PJ pra mim...Esse art. foi na veia e recordando o que essa equipe pastoral desta época fez as nossas dificuldades, conquistar e principalmente as amizades, mesmo ausente e perto do coração ♥ AMODORO TODOS ♥ ... Sou hoje uma pessoa muito grata pois a pastoral da juventude contribuiu muito na pessoa que sou hoje ... É muita emoção e o bom de tudo quando nos encontramos e sempre uma enorme alegria ... Agora reorganizar é um desafio...mas para Juventude que crê e tem como referência Cristo ... Posso estar enganada e recomeça mais uma parte da história da PJ de São Miguel Pta.
    Nossa posso confessar quanta emoçãooooo escrevendo e as lembranças vindo à tona ... Rogério mais uma vez muito aliás Deus muito muito obrigado por permitir fazer parte dessa história principalmente de cada um que conheci e que amo a todos e sem falar da Saudade que aperta o coração... Obrigado ♥

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