domingo, 3 de março de 2013

A tal opção preferencial pela juventude

Documentos da Igreja a apontam. Pessoas repetem a afirmação por aí. E neste ano de 2013 será especialmente citada. Mas será que todos os que ouvem tal afirmação tem a mesma interpretação? O que significa de fato a Igreja afirmar que fez uma opção preferencial pela juventude?
 
Num artigo anterior, já discutimos sobre as diferentes razões apresentadas pelas pessoas para investir (ou não) na juventude. A realidade da pessoa, seu histórico, sua visão de juventude e de Igreja são a base para responder a esta questão do investimento. Mas será que elas também servem para explicar os entendimentos que possam aparecer a respeito da opção preferencial pela juventude?
 
O padre Jesuíta João Batista Libânio disse certa vez que para ajudar a entender uma frase ou expressão, podemos começar analisando palavra por palavra, suas origens e significados para depois entendê-las todas juntas e posteriormente no contexto citado. Achei uma boa dica. E será como faremos neste texto.

Logo de início, já damos conta de duas palavras: opção e pela. Sim, porque opção tanto pode ser escolha, alternativa ou preferência. E quem escolhe, acaba por fazê-lo entre possibilidades possíveis. Quem opta, opta por algo. A OPÇÃO, no caso, é PELA juventude. Mas é uma escolha de que tipo? Prioritária? Exclusivista? Eliminatória?
 
Não. É uma escolha PREFERENCIAL. O que isto não quer dizer? Que a preferência não é exclusividade, não elimina outras possibilidades. Preferência pode apontar para algo do qual se goste mais ou para uma urgência. Preferência pode ser tomada como prioridade.
 
A opção, ou seja, a escolha da Igreja é feita preferencialmente (por prioridade) pela JUVENTUDE. De qual juventude se fala aqui? Na frase original não há apontamento para nenhuma característica específica. Hoje, um termo genérico pode ter a interpretação que o ouvinte bem entender. Por isso, uma frase solta é sempre perigosa. O que este ouvinte pode interpretar? Que a preferência é pela juventude que está perto dele, ou por aquela que entende a mensagem da Igreja, ou, inconscientemente, por aquela formada por pessoas brancas, de classe média, com certo poder aquisitivo. Outros ainda se metem com a juventude lascada, dos bairros periféricos, de maioria negra e que em muitos casos nem católicos são. Faria a Igreja opção por qual juventude? Você, como Igreja, faz opção por qual delas?
 
Qual o marco original de tal citação? Foi a Conferência de Puebla, em 1979. Lá surgiu a citação no documento final, após amplas discussões. Em que contexto ela aparece no texto? A juventude é apresentada no documento como um agente mobilizador, renovador, dinamizador e transformador da realidade, seja ela social ou eclesial, embora encontre dificuldades em ambos os ambientes. No aspecto eclesial, que é o ponto aqui, não encontram, diz o texto, “uma boa planificação e programação pastoral que corresponda à realidade histórica em que vivem”.
 
Ou seja, a juventude carrega um potencial transformador muito grande em si, mas encontra poucas propostas na realidade pastoral em que vive e que responda à sua vida concreta. Em qualquer análise da conjuntura eclesial que façamos, ainda hoje encontraremos este diagnóstico.
 
Ainda continuando, o documento afirma: “Os jovens devem sentir que são Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação. Por isso, a Igreja aceita suas críticas, por reconhecer-se limitada em seus membros, e os quer gradualmente responsáveis na sua construção até que os envie como testemunhas e missionários, especialmente à grande massa juvenil”.
 
E, por fim, vem a frase: “A Igreja confia nos jovens. Eles são a sua esperança. A Igreja vê na juventude da América Latina um verdadeiro potencial para o presente e o futuro de sua evangelização. Por ser verdadeira dinamizadora do corpo social e especialmente do corpo eclesial, a Igreja faz uma opção preferencial pelos jovens, com vistas à sua missão evangelizadora no Continente”.
 
Isto é tão claro, tão óbvio que por vezes é difícil entender porque não se aplica em todos os lugares. Onde os jovens sentem que são Igreja, onde a comunidade é lugar de comunhão e participação, onde as críticas são bem recebidas, o crescimento pastoral é inevitável. Se em todos os lugares encontrássemos comunidades que confirmassem esta opção preferencial pela juventude, a missão evangelizadora da Igreja seria muito mais eficaz.
 
E o texto complementa: “Por isso queremos oferecer uma linha pastoral global: desenvolver, de acordo com a pastoral diferencial e orgânica, uma pastoral de juventude que leve em conta a realidade social dos jovens de nosso continente; atenda ao aprofundamento e crescimento da fé para a comunhão com Deus e os homens; oriente a opção vocacional dos jovens; lhes ofereça elementos para se converterem em fatores de transformação e lhes proporcione canais eficazes para a participação ativa na Igreja e na transformação da sociedade”.
 
A opção preferencial pela juventude se dá através de uma ação articulada da Igreja junto às juventudes. E o nome desta ação é Pastoral da Juventude. Sim, é o que está no documento. Contudo, há quem diga que estas são decisões de uma conferência que aconteceu há mais de 30 anos. Alguns podem alegar que o mundo mudou muito neste tempo. Certamente mudou. Mas as intuições do documento ainda são extremamente válidas, como já foi apresentado acima. Não se pode descartar a história. Muito do que se viveu e se escreveu ainda é extremamente útil hoje em dia. É preciso sempre contextualizar e atualizar.
 
A questão maior é como acolhemos, orientamos, estamos em comunhão com a juventude enquanto Igreja. Pessoalmente, seja pela história, seja pela articulação, seja pelo compromentimento, os grupos que mais abraçaram, encarnaram e contribuíram para concretização no Brasil deste pedido que Puebla nos faz são os grupos das Pastorais da Juventude. E percebo a necessidade de ainda se fazer acontecer continuamente a tal opção preferencial pelos jovens seguindo a intuição original do documento: para proporcionar uma participação ativa na Igreja e na transformação da sociedade.

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