terça-feira, 7 de maio de 2013

Por que um grupo acaba?


Uma característica de quem tem bastante tempo de vida pastoral é que já viu muita coisa acontecer. Coisas bacanas e coisas tristes. A nossa tendência é achar que a morte de um grupo é algo triste. Nem sempre é. Existem as mortes naturais (já comentei delas aqui), mas também existem as mortes “matadas”. É a respeito destas últimas que eu gostaria de falar.

Um grupo morre antes do tempo por fatores internos, externos ou por ambos ao mesmo tempo. É importante que consigamos entender estes fatores para podermos agir antes, evitando assim um dano maior. Sim, dano. É sempre muito triste ver um grupo para o qual dedicamos tempo e vida acabar, seja ele um grupo de base, uma coordenação paroquial ou mesmo diocesana. E as consequências disso para a continuidade de um trabalho pastoral são sempre mais complicadas.


São fatores externos aqueles que surgem independente da postura dos jovens participantes e da coordenação do grupo. Dentre os fatores externos podemos encontrar as difamações, falta de apoio e as perseguições. 

Difamações são afirmações que se faz sobre alguém, normalmente ofensivas e/ou que atingem a sua honra e reputação, com a intenção de torná-lo passível de descrédito na opinião pública. Um aspecto que agrava a difamação é o já famoso “quem conta um conto aumenta um ponto”. Nas redes sociais isso vem ocorrendo com bastante frequência em relação aos grupos pastorais. Acaba virando uma bola de neve. Há casos em que a retratação resolve, mas há outros em que o estrago é muito grande.

Falta de apoio é omissão clara. Juventude há muito tempo nos documentos é tida como prioridade para a Igreja. Não abrir espaço, sala para encontros, não oferecer infraestrutura, formação ou acompanhamento é a mesma coisa que jogar uma semente sobre a terra e esperar que brote uma planta frondosa, sem que se cave, adube, cubra e regue a semente. Às vezes, por teimosia e por qualidade, a semente brota, mas não é comum que vingue por longo tempo.

Perseguição é outro caso triste. Há oposição sistemática aos grupos pastorais em algumas comunidades cristãs. O tipo de jovem formado pela PJ é um jovem crítico e que precisa saber das razões das decisões. Um sujeito assim não é bem quisto por aqueles que querem que suas decisões sejam aceitas passivamente. Já vi equipes diocesanas penarem por encontrarem cenários como este. 

Há também os fatores internos. Estes são provocados pelos participantes do grupo e por sua coordenação e/ou assessoria. Dentre eles há de se destacar a não divisão de tarefas, as panelas, as fofocas, a falta de objetivo ou de compromisso.

Não dividir as tarefas é apostar na não formação de lideranças, não valorização dos jovens. Se forem centralizar tarefas e decisões, pior ainda. O pecado é se tornar um líder ditador que não divide tarefas, mas distribui ordens ou um líder paternalista que faz tudo e trata os outros jovens como incapazes.

As “panelas”, como já comentei aqui, são os subgrupos dentro do grupo maior. Normalmente ele não se mistura, não se integra e procura se “proteger” dos demais do grupo. Neste processo, surgem comentários distorcidos, conversas atravessadas e pouca ação em comum. Os demais são vistos geralmente como “os outros”.

Ocorrendo em paralelo ou não à formação das “panelas”, a fofoca é um dos elementos mais desagregadores dos grupos. Ela é, como também já disse aqui no blog, um achismo sobre a vida alheia, sem que o alheio fosse consultado a respeito. É a oportunidade para que se espalhem toda sorte de comentários a respeito das pessoas em pauta. Num grupo isso é ruim, pois pode criar rivalidades e desconfiança.

Um grupo que não sabe o que quer da vida fatalmente fracassará. É a tal da falta de objetivo. Reunir-se por se reunir é algo extremamente corriqueiro para centenas ou milhares de grupos de jovens no país. Conheci vários deles em que o roteiro era chegar, ler uma passagem aleatória da Bíblia, cantar, dar avisos e ir embora. Sem contexto com a vida, sem participação efetiva na comunidade, sem possibilidade de serem lideranças ou agentes transformadores e evangelizadores.

Quando se fala em falta de compromisso estou me referindo tanto ao grupo quanto à coordenação ou assessoria. Encontros mal preparados (ou não preparados), coordenadores que faltam a eventos, que não prestam conta das finanças ou das avaliações, assessores que não acompanham o grupo, participantes divididos entre o grupo e eventos corriqueiros, falta de cobrança, falta de continuidade, falta de programação. Tudo isso são fatores que com o tempo desestabilizam o grupo.

Você já viveu situações assim? Passou por outras não descritas aqui? Como resolveu? Tenho para mim que todas elas são passíveis de serem evitadas ou minimizadas. Como disse, é sempre triste quando um grupo acaba por morte “matada”. Isso não está nos planos pastorais. Contudo, entender o contexto e partilhar alternativas é um aprendizado e evita maiores dores e sofrimentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário