quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os anjos mais velhos

Era uma tarde agradável do mês de agosto. Após três falas de assessorias peritas, uma quarta assessora tomou a palavra. Ela quis saber por que todos estavam ali, se eles se lembravam do começo da caminhada e de quem os ajudou a chegar até ali. Por vezes, ele parava para pensar nestas coisas. Desta vez, porém, o cuidado com os pensamentos e lembranças foi maior.

Não sei quanto tempo você tem de vivência pastoral. Não sei os detalhes de como você conheceu e se envolveu com a PJ. Mas certamente não foi numa manhã de sol que você resolveu, do nada, sem uma história anterior, sem um contato prévio, se encantar por esta pastoral.

Desta mesma forma havia sido com ele. Seu contato e ligação se deram aos poucos, de maneira processual. Sabia de algumas histórias em que alguns foram primeiro pelo caminho da prática. Primeiro meteram a mão na massa e depois descobriram que aquilo se chamava Pastoral da Juventude. Outros entraram pela via da teoria. Tinham um problema e descobriram o método e a formação vinda da PJ. Ele, no entanto, teve a grata história de entrar nesta relação pelas duas vias.


Ele sabia que havia PJ na sua paróquia porque ajudara a cria-la por lá. Sabia que aquilo era pastoral porque as práticas coincidiam com tudo o que aprendera e lera até então. Tinham o apoio do padre, tinham o acompanhamento das freiras. Mas a formação na ação foi dando a ele uma visão mais ampla. Os conflitos, as dificuldades, as conversas, as reuniões, as reuniões, as reuniões, os encontros, as decepções, os abraços, as visitas, as dicas, as missas, as pizzas de sábado, os esquemas anotados em papel de guardanapo, as surpresas e os apoios ajudaram muito a entender porque aquilo valia a pena.

Lembrou com carinho do padre que o mandou para seu primeiro curso e das irmãs que falavam com entusiasmo da pastoral da juventude e de suas assembleias, métodos e opções. Guardou com carinho as companheiras e companheiros de primeira caminhada com quem sonhou organizar uma PJ paroquial, dar formações e realizar encontros.

Trouxe viva a memória do encontro com a organização mais ampla, como diziam os textos que ele passara a ler para entender tudo aquilo que vivia. Lembrou-se do assessor franzino e cheio de graça que veio contar a história daquela pastoral e que o convidou a conhecer outras estruturas e outras realidades.

E lá foi parar ele no meio de uma assembleia estadual, com gente de todos os cantos falando das mesmas coisas que ele acreditava. Foram tantas assembleias, reuniões, encontros, reuniões, seminários, reuniões, formações, reuniões, grupos visitados. Tanta gente ele conheceu. Tanta gente o incentivou. Tantos desanimaram. Tantos ele ajudou a se reerguer. E houve tanto vice-versa nesta história.

Ele carregava dentro de si todas estas pessoas. E isto era mais do que fato. Foram encontros pessoais carregados de vida, poesia, atitude e agora saudade. Mas que o ajudavam a ter “força e a coragem pra chegar no fim”.

No fim. Não chegara ainda no fim. Tudo o que vivera, todas as pessoas que carregava consigo não o deixavam desanimar. Todos eles e todas elas caminharam por um motivo e por isto não desistiram. A fé em Jesus os animava. O desejo de lançar as sementes do Reino de Deus os motivava. E os pequenos brotos iam aparecendo. Talvez alguns não dessem valor àquilo, mas não aqueles que o antecederam.

Fazer pastoral é fazer memória também. Não se esquecer daqueles que primeiro tomaram sua mão ou que o animaram a fazer parte do grupo. Daquelas que lhe emprestaram livros valiosos por seus conteúdos, ou que indicaram sites, páginas, vídeos ou blogs interessantes. Daquele cara que numa tarde chuvosa foi até sua casa para ouvi-lo. Só ouvi-lo. Ou da coordenadora que apareceu no aniversário da sua avó, causando surpresa até para ela. Das conversas que varavam a madrugada. Da mãe que, ironicamente, mandou-o levar a cama até a Igreja, mas que no fundo do coração ama tudo isso que ele faz. Dos assessores e assessoras que ele nem sabe mais por onde andam, mas que ele sabe que deixaram uma marca. “Tua palavra, tua história, tua verdade fazendo escola e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar”.

Tudo isto pode estar só na memória, mas não quer dizer que é pouca coisa não. A memória é a vida vivida, celebrada e oferecida a Deus. O passado foi um presente. E todos os que passaram e contribuíram para sua caminhada foram dádivas, anjos. E é por isso a música acerta quando diz que “Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você. Só enquanto eu respirar”.

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