sábado, 4 de janeiro de 2014

Preparados/as para 2014?

Muitas pessoas olham para o futuro, especialmente nestes momentos de virada de ano, e esquecem-se do passado. O futuro é o horizonte, são as possibilidades, mas nada disso ainda aconteceu, nada é concreto. O passado é o rastro marcado, a trilha caminhada, é aquilo que deixamos para trás. Mas nem de longe podemos classifica-lo como algo descartável ou inútil, pelo contrário. Quem sabe entender o passado, guia os passos do presente em busca de um futuro melhor. Sim, isso é clichê, mas é fato.

Este ano chega recheado de comemorações, efemérides, aniversários redondos, fatos marcantes e datas que não devem ser esquecidas (pelo bem ou pelo mal que fizeram). Fazer memória é tarefa nossa, aprendida e vivenciada na pastoral da juventude.


É ano de Copa do Mundo. E Copa no Brasil. De 12 de junho a 13 de julho, os olhos do mundo estarão voltados para cá. Tantos investimentos feitos, tantas famílias afetadas, tantas críticas bem fundamentadas, porém esquecidas e não divulgadas. Tantos estádios inúteis que não abrigarão nada relevante depois do evento. E tanta gente torcendo pela vitória da seleção nacional. Que poder é esse que o futebol exerce sobre a cultura e o imaginário popular? Sete jogos confirmam ou tornam uma seleção a melhor do mundo e mexem com o orgulho das trinta e duas nações. Como é que, na PJ, vamos trabalhar com estes elementos riquíssimos em discussão?

Coincidência ou não, de 1994 para cá, todas as eleições para presidente, governador, deputados federais e estaduais e para uma vaga no senado ocorrem em anos de copa do mundo. Nos dias 5 e 26 de outubro acontecerão os dois turnos. E o debate de ideias e propostas será duramente encurtado pelo interesse esportivo. Gente muito fraca e distante da luta popular vem sendo eleita nestes últimos anos. Como a PJ vai ajudar a pautar a vida da juventude, a ética, o combate a corrupção nesta eleição? Como ajudar que as boas ideias e propostas sejam evidenciadas e não os candidatos ligados ao tráfico de drogas, às grandes instituições financeiras, aos interesses das megacorporações, bem como os artistas, os esportistas e pseudocelebridades que só estão disputando para puxar votos para os candidatos corruptos de sempre?

Falando em eleições, lembramos em 2014 dos 25 anos da primeira eleição presidencial após a ditadura militar. Foi uma coisa tão espetacular. Eu tinha 16 anos na época. Minha primeira eleição. Meu primeiro voto foi para presidente. A última vez que o Brasil viu algo assim foi em 3 de outubro de 1960, com Jânio Quadros eleito. Sim, em 1989 foi um baque a eleição do Fernando Collor, principalmente quando vimos como foi o seu governo. Por isso que eu disse que a gente precisa aprender com o passado.

Olhar o passado e aprender com o ocorrido em 31 de março de 1964. Há 50 anos os militares derrubavam o então presidente João Goulart e implantavam uma ditadura que durou 21 anos no país. Foi um período de perseguições políticas, de confrontos de ideias e de posturas. Quem se manifestava contra o governo era duramente reprimido. Muitos desapareciam. Dentre estes, muitos jovens ligados à Ação Católica Especializada, extinta pela CNBB poucos anos depois do golpe.

A Ação Católica Especializada era formada pelos grupos da JAC, JEC, JIC, JOC, JUC (juventude agrária, estudantil, independente, operária e universitária católica). Suas diretrizes, orientações, metodologia serviram de inspiração para mais tarde surgirem as pastorais da juventude. Eles buscavam aplicar o evangelho na vida, no ambiente em que estivessem. Em muitos casos eram sinais de resistência.

Resistências duradouras entendem que o aspecto cultural lhes dá força para continuar e simpatia para crescer. Assim tem sido na história. E neste ano comemoramos também 50 anos de um símbolo cultural de resistência e de rebeldia contra o status quo: as tirinhas e histórias da Mafalda. Eu gosto muito dela. E fico pensando neste mesmo viés cultural e artístico usado pela PJ no Brasil para ajudar a pensar e a crescer na consciência crítica. Não podemos esquecer-nos disto. É preciso sempre investir.

Continuando neste olhar para o passado para projetarmos o futuro, não se pode esquecer que há 25 anos caia um dos maiores símbolos da Guerra Fria: o Muro de Berlim; e que há 100 anos se iniciava a primeira guerra mundial. Não sei se é preciso dizer muita coisa a respeito dos horrores que estes dois eventos representam e das vidas perdidas nos relatos que os envolvem. Há amigos professores de História que são capazes de desenrolar todas as associações claras e obscuras entre os dois eventos. Mas eu aprendi na PJ que a vida é o critério e aprendi na Igreja que estamos no mundo pelos outros. A guerra, os muros, as separações e a violência não fazem sentido.

E para fechar as perspectivas do ano, agora em janeiro teremos a Ampliada Nacional da PJ que é o espaço deliberativo e de encaminhamento das questões nacionais. Qual será o olhar, o enfoque para os próximos três anos na PJ de todo o Brasil? Como nos organizamos melhor para que possamos agir melhor? Quais são as pistas, sugestões e olhares que os projetos nacionais irão apontar? Os desafios são grandes, seja no nosso mundo eclesial ou nos ambientes diários, seja para a juventude dos grupos ou para os jovens que nem sequer nos conhecem. Traduzir todos estes anseios. Este é um dos desafios desta Ampliada Nacional.

Traduzir todos estes anseios. Este é um dos nossos desafios, onde estivermos como participantes da Pastoral da Juventude. Esta atualização constante foi um dos aprendizados que tive na minha história e na minha participação. Certamente não sou e nem atuo da mesma maneira que há quase 25 anos quando conheci a PJ na manhã daquele dia 5 de agosto. Certamente você também não é mais o mesmo e a mesma. Por isso a atualização é importante. Por isso é necessário conhecer os sinais dos tempos e os sinais das juventudes. Aprender com o passado, compreender e viver o presente e projetar o futuro. Feliz 2014! 

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