segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Bem antes da assembleia

Um amigo de pastoral me escreveu recentemente. Ele e a turma da coordenação diocesana vão fazer a assembleia da PJ e queria algumas dicas. Algumas coisas do que eu respondi a ele, eu reproduzo com as devidas adaptações aqui. E queria dizer também que, pelas respostas encaminhadas, acabei tendo a motivação de não escrever somente este texto, mas uma pequenina série.

Eu me lembro de que há alguns anos, um padre querido, assessor da PJ regional à época, comentou comigo que tinha o desejo de escrever sobre como preparar uma assembleia pejoteira. Dizia ele que já havia rodado por muitos lugares e que nas assembleias que visitara sempre faltava alguma coisa.

Esta foi a minha percepção também, seja por eu ter vivenciado este mesmo serviço na assessoria regional, seja também pela mensagem direta que este primeiro amigo me enviou, seja ainda por ter participado de várias assembleias. Quem convive ou conviveu comigo sabe do meu apreço pelas linhas metodológicas das atividades da PJ. E considero que uma assembleia, seja em que nível for, é A Atividade por excelência. 


No entanto, o desejo de escrever alguns textos a respeito do cuidado que se deva ter no preparo de uma assembleia da PJ não tem, de forma alguma, a pretensão de dar uma resposta definitiva ou um apresentar um modelo padrão a ser seguido. Quero apresentar algumas lembranças que julgo terem sido importantes na minha caminhada e que acredito sejam interessantes a ponto de serem compartilhadas.

Dada esta introdução, volto ao meu amigo pejoteiro que me escreveu pedindo dicas para a assembleia da diocese dele. A primeiríssima coisa que eu disse a ele é a respeito da dificuldade que eu teria de ser preciso na contribuição, já que eu não vivo a realidade deles, sei pouco da história pela qual passaram até aquele momento e não tenho ideia dos objetivos daquela assembleia. Pode parecer pouco, mas só estas três coisinhas já renderam uma boa conversa.

Se quisermos que uma assembleia fracasse, um tiro certeiro é ignorar a história daquela pastoral naquela localidade. Podem-se aprovar deliberações fantásticas que não dizem respeito à vida dos grupos e à missão das instâncias, bem como reproduzir erros já vividos pela simples ignorância dos fatos passados.

O processo histórico aponta também para os frutos desejados de uma assembleia. Eu já vivi assembleias que desejaram ser um ponto de virada na história daquela pastoral. O passado recente trazia consigo marcas de dificuldades, sofrimentos, enfrentamentos vãos e nada do que se plantara até ali apresentara a possibilidade de frutos futuros. Era preciso romper o ciclo vicioso. Foi uma assembleia de ruptura.

Outras tantas conseguiram perceber que frutos bons puderam ser colhidos. Conseguiram avançar alguns passos. E era preciso ir além. O acerto foi feito e o caminho futuro era mais claro. Foram assembleias que optaram por avaliar para avançar mais.

Há também assembleias que tem a clara intenção de questionar os participantes se aqueles avanços conseguidos foram suficientes pelo esforço apresentado ou se seria necessária uma mudança de rota. Não é a ruptura do primeiro caso e nem a clareza de um avanço mais tranquilo, do segundo. Há uma variação de tons neste caminho do meio, adotado em muitas assembleias que eu já participei.

Qual é o melhor modelo? Depende da realidade e dos propósitos a serem colhidos. No entanto, algo que é comum a todas elas é o reconhecimento. Ele se dá, ao meu ver, em três vias: representatividade (reconhecimento pela organização), autonomia (reconhecimento pelos jovens) e legitimidade (reconhecimento pela Igreja).

Uma assembleia legítima precisa ser representativa, ou seja, não se faz um momento como este com meia dúzia de contatos, por mais qualificados que eles sejam. A representação na assembleia, além de geográfica, precisa ter um equilíbrio entre quantidade e qualidade dos representantes. Uma diocese, por exemplo, que tenha quatro regiões não tem uma representação geográfica equilibrada se a presença for somente de uma destas quatro regiões. E o equilíbrio entre quantidade e qualidade se dá não pela massa presente (quantidade), mas pela diversidade de experiências que busquem o bem comum (qualidade). Não há fórmula para isso.

O segundo ponto do reconhecimento de uma assembleia é a autonomia. Uma atividade deste porte em que os adultos comandam, sejam eles leigos, assessores, religiosos ou sacerdotes, não dá o devido encaminhamento que a PJ prega. Sabemos, por experiência, que aquilo que ajudamos a decidir nos compromete na execução. O jovem quando se sente protagonista do processo, veste a camisa e assume a missão. Quando outros decidem por eles, os jovens esperam é que os outros se resolvam.

Por fim, a legitimidade está ligada diretamente à organicidade da PJ. É preciso olhar para a realidade em que se vive e responder a uma simples pergunta: Nossa PJ vive isolada ou tem trabalhos e relações comuns com a pastoral de conjunto? Além disso, sabemos e proclamamos que a assembleia é a instância deliberativa máxima da PJ. Mas isso tem pouco valor se a Igreja em suas instâncias não reconhecer a validade destas decisões. Por isso que numa diocese, por exemplo, a realização da assembleia deve ser de conhecimento do bispo e/ou do coordenador de pastoral. É muito importante que eles conheçam a proposta metodológica e, posteriormente, as decisões tomadas. Se puderem estar presentes, melhor ainda. Isso ajuda a legitimar as propostas apresentadas e o caminhar pastoral.

Estas todas são reflexões anteriores. Partindo do mundo dos desejos, mas com os pés na realidade, temos que pensar no modelo de assembleia que se encaixa melhor na necessidade atual, sem se esquecer dos pontos que cercam o reconhecimento da mesma. Quando se reflete bem sobre estes pontos, o tempo ganho é enorme e as indicações que surgem são mais certeiras para a construção de uma melhor metodologia para o momento. E é sobre o caminhar metodológico que falaremos no próximo texto.

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