segunda-feira, 29 de junho de 2015

Carpe diem

O pai do meu amigo morreu. Foi algo realmente inesperado. Num momento estava bem. Passou mal e logo veio a falecer. Rápido e fulminante. Pegou a todos de surpresa. Alguns poderiam dizer: “Mas ontem ele aparentava estar tão bem”. Mas assim é a vida. Surpresas aparecem a todo o momento.

Um ex-educando de uma amiga também morreu. Coincidentemente na mesma semana do fato acima. Mas foi essa a única coincidência. Dizem que foi morto num assalto onde ele estava portando uma arma de brinquedo. Alguns poderiam dizer: “Ele encontrou o que procurava”. É. A vida é assim. Mas não deveria.

A morte é só um exemplo. Aconteça ela de forma natural, forçada ou violenta, sempre é uma perda para alguém. Seja anônimo ou famoso. Seja cristão ou não. Por mais que a vida nos ensine, a gente não se acostuma. A perda é sempre dolorosa e, de novo, a morte é um exemplo forte disso.


Não é só com ela. Perder um emprego, perder um amigo, perder um amor, perder um dente, perder um ano na escola, perder uma partida importante, perder um prazo para uma inscrição, perder bens num assalto, perder o ônibus, perder os movimentos... Não estamos acostumados a perder. Sim, são dores de intensidades diferentes, mas não adianta. Não gostamos de perder.

E por que disso? Porque estamos acostumados a ganhar e/ou acumular ou por também acreditarmos, ingenuamente, na perenidade das coisas, momentos e relações. Mas nada destas coisas duram para sempre. O fato é que uma hora ou outra nós iremos perder tudo.

Trágico isso, não? Depende. Há quem negue esta realidade e se esconda num mundo de fantasia onde ela se dá por satisfeita por ter cinco mil amigos numa rede social ou milhares de seguidores numa outra. Há quem prefira acumular bens e não perceber que eles se perdem com o tempo. Outros ainda encontram uma vã satisfação em adular esta ou aquela pessoa tida como poderosa na inútil tentativa de sentir um pouco desse poder.

Há quem não negue isso, mas reconheça esta triste realidade como um fim certo para todas as pessoas. De que adianta, dizem estas pessoas, tentar fazer o bem, ser justo, correto e honesto, se os maus, os injustos, os incorretos e desonestos têm o mesmo final que todos os seres humanos? Não seria melhor, continuam eles no seu raciocínio, viver cada um por si e aproveitar as pequenas doses de alegria oferecidas pela vida?

Eu creio que não. Quero acreditar, e faço o esforço diário para isto, de que pertenço a um terceiro grupo de pessoas. Estas, nas quais incluo grande parte dos pejoteiros e pejoteiras que conheci na vida, são pessoas que sabem sim da finitude da vida, das coisas, das relações e dos momentos. Sabem que muitas delas vão perecer e sumir. Só não somem aquelas vidas, coisas, relações e momentos que depositamos no coração de Deus. E o que significa isso? Duas ideias antes:

Primeiro: das primeiras coisas que aprendi na minha vida pastoral foi que fé e vida não se separam. Oração e ação estão sempre juntas e que uma fortalece a outra. Um militante pastoral que só está na ação, acabará desanimando com tanta porta fechada e obstáculo na vida se não tem uma espiritualidade encarnada. Uma jovem liderança estará desconectada da realidade se sua prática pastoral for somente a oração sem refletir a ação do dia a dia.

Segundo: Já foi dito que o passado é memória e o futuro é uma aposta. Só temos o momento de agora. E ele, não por coincidência, se chama presente. Viver bem o dia presente. Não saberemos nunca se ele será o último. Nunca saberemos se tornaremos a ver aquela pessoa que encontramos. E a oportunidade de fazer o bem talvez não ocorra da mesma maneira. Por isso é importante sermos significativos na vida das pessoas. Não pela memória que talvez elas façam de nós, mas pelo bem que podemos fazer à vida delas.

Não é o que você faz que seja realmente importante. É o como você faz. Lembra-se daquela leitura famosa de I Coríntios 13? Aquela que diz que ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas; ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria?

Pois é, meu amigo e minha amiga. Todas as coisas passam. Só o Amor fica. O amor jamais passará (I Cor 13,8). O Amor vem de Deus, o Amor é Deus (I Jo 4,16). Aproveitem o dia. Aproveitem este Presente. Façamos o bem a todos. E coloquem este bem em oração, no coração de Deus. Portanto, como dizia Horácio, Carpe Diem. Aproveite o dia. Afinal, é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.

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