segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Algumas histórias anteriores à Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude - Crato

A Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude aconteceu na cidade de Crato, no Ceará, entre os dias 22 e 29 de janeiro de 2017. Eram mais de 100 participantes diretos e alguns outros convidados (eu inclusive), fora as tantas equipes de trabalho. Para quem não sabe do que se trata, uma Ampliada Nacional é internamente o maior espaço deliberativo desta pastoral e também o momento para se pensar a indicação dos passos a serem seguidos nos próximos anos pela Pastoral da Juventude.

Muitas coisas me marcaram nesta atividade. A maior parte delas positivamente. E por todas elas, todas mesmo, eu enxergo uma série de possibilidades pastorais para a PJ nos próximos anos. Mas creio que antes de se entender o que me leva a crer nas alternativas futuras, é bom olhar os fatos que antecederam esta ampliada para poder compreender o que de mais significativo ocorreu por lá, para daí sim tentar perceber o olhar que faço para daqui por diante.


Salgado, em 2005, Palmas, em 2008, Imperatriz, em 2011 e Belo Horizonte em 2014 foram as cidades que receberam as últimas ampliadas nacionais. Todas elas carregam uma marca significativa: a criação e organização em torno de projetos nacionais para a ação pastoral. Era previsto que esta ampliada fizesse a revisão deste caminhar.

Salgado pensou os cinco primeiros projetos nacionais: A juventude quer viver, Caminhos de esperança, Mística e Construção, Teias da Comunicação e Ajuri.  A Campanha Nacional contra o extermínio de jovens, uma das bandeiras do projeto A Juventude quer Viver, veio surgindo na preparação para a 15ª Assembleia da PJB, em meados de 2008 e se estendeu até 2016.

Quando se olha para Palmas, as marcas podem estar nas prioridades estabelecidas: os grupos de jovens e missionariedade. Mas ali foram lançadas as sementes para que fosse escrito o material "Pastoral da Juventude um jeito de ser e fazer". Fora isso, um dos gritos da ampliada foi a discussão de gênero, que não gera uma ação propriamente ali, mas culmina na criação no projeto Tecendo Relações na ampliada de Imperatriz

E por falar em Imperatriz, não podemos nos esquecer do Somos Igreja Jovem. Pessoalmente nunca vi material mais bonito e com tantas informações necessárias. Hoje ainda muita gente o usa como síntese da nossa identidade pastoral. No entanto, é necessário, sempre, revisitá-lo e atualizá-lo se quisermos utilizá-lo realmente com esse fim, pois os tempos e as necessidades mudam

Outro fato marcante se deu oficialmente no Encontro Nacional da PJ, ocorrido em 2015 em Manaus. Dentre tantas coisas bonitas deste encontro, as jovens pejoteiras se reuniram e falaram de um assunto incômodo dentro da Pastoral: o machismo. E puderam também conversar a respeito das alternativas para se superar este problema.

O olhar e a presença feminina não é fato novo na PJ. Em Imperatriz, a iluminação bíblica vinha do grito de umas das mais fortes figuras femininas descritas, Ester: “O meu desejo é a vida do meu povo.” (Es 7, 3). Quando olhamos para o Conselho Nacional de Juventude, a primeira presidente  vinda da sociedade civil foi  Elen Linth, que foi secretária nacional da PJ.

Outras duas marcas da Ampliada de Crato em toda a sua preparação foram o jogo de palavras com a expressão SerTão PJ e o indicativo bíblico a respeito do pedido de Jesus ressuscitado às mulheres que foram ao seu túmulo no domingo de Páscoa:  "Então Jesus disse a elas: «Não tenham medo. Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galiléia. Lá eles me verão". (Mateus 28,10).

Ao dizer SerTão PJ, o jogo de palavras faz referência indireta à questão da Identidade Pastoral. Nós somos Pastoral da Juventude, mas não é algo superficial. Somos profundamente, em todas as consequências, somos e queremos ser mais, entender mais, viver mais. Por isso somos "muito" PJ, por isso somos tão PJ, e por isso queremos continuar a ser tão PJ. A referência direta, no entanto, faz ligação ao lugar sagrado onde nos reunimos. Não estamos em qualquer lugar. Estamos no sertão do Cariri, perto das terras onde viveu o Padre Cícero, no sul do Ceará. Terra de gente que vive com comprometimento a sua fé e que também tem uma vida dura, marcada pela dependência das mudanças climáticas. Terra de gente, antes de tudo como dizia Euclides da Cunha, gente forte, marcada pela identidade e austeridade no viver.

Fisicamente a terra onde pisávamos era um local referencial pelos tantos motivos já expostos, mas também nos trazia o referencial bíblico deste momento. Ali era feito o pedido para irmos às Galileias, onde encontraríamos o Senhor ressuscitado. Que Galileias seriam essas para a PJ? Onde encontraríamos Jesus hoje? Como Ele mesmo disse em Mateus 25, 31-46, em especial nos versículos de 37 a 40:

Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.’

As Galileias juvenis são os lugares onde a juventude sofre riscos iminentes, sejam aqueles(as) dos povos tradicionais, quem vive do e no campo, as jovens mulheres marginalizadas, aqueles e aquelas que sofrem com sua orientação sexual e gênero, quem está em situação de rua, aqueles(as) que sentem os efeitos de uma má educação  e/ou das diversas situações do mundo do trabalho, da drogadição, o conflito com a lei, o encarceramento, bem como a realidade do genocídio da juventude, migrantes e refugiados e tantas outras Galileias.

Por fim, para se fechar o entendimento de tudo que antecedeu esta ampliada, é necessário falar da mística. Não se deseja falar do sertão ou das Galileias como lugar de sofrimento como o senso comum costuma apontar. A realidade cercada de dor precisa ser revirada, precisa ser cuidada, precisa ser transformada, passar por uma metamorfose. A estes atos pode-se dar o nome de esperança ativa. Este foi o mote de todas as celebrações. Não tiramos o pé da realidade, mas queremos ver esta realidade florescer. A marca da flor foi uma das identidades visuais e afetivas que antecederam e que vivenciamos nesta ampliada.

Estas foram as ideias gerais que se tornaram o terreno onde a Ampliada de Crato foi plantada. Na próxima postagem (clique aqui para ler) a ideia é tratar a respeito da Ampliada em si e das possibilidades que ela aponta.

Um comentário:

  1. Rogerio que bela postagem, me fez voltar em Crato naquele sertão gostoso com cheiro bom de jovem na busca de suas respostas..... ansioso já pra ler a próxima.
    Abraços...

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