sábado, 5 de agosto de 2017

Minha amiga pejoteira


Minha amiga é pejoteira. Talvez se dissesse só isso bastaria, mas é preciso explicar. Poderia até dizer que ela é um exemplo típico, mas não seria verdade. Embora muitas possam se identificar com sua trajetória, ou ver nessas linhas os traços de muitas caminhadas, eu escrevo pensando nela.

O que a faz então tão diferente de tantas histórias que aqui e ali são paralelas ou coincidentes? Sabe a história do Pequeno Príncipe e a rosa? O tempo dedicado a ela foi que a tornou especial para o príncipe. Se você não leu essa história, leia.

Ela é especial, ao menos para mim (e sei que para mais um tanto de gente), porque eu a conheci, porque eu a vi sorrir, gargalhar, sentir raiva, chorar. Porque lhe ofereci o ombro, sentei ao seu lado, ouvi seus sonhos, aconselhei-a, repreendi-a, tomei chamada dela. Trocamos e corrigimos textos um do outro, trocamos mensagens pela internet, conversamos pelo computador ou pelo celular. Viajamos juntos, fomos aos mesmos locais, na realidade concreta e também nos sonhos por um mundo melhor e pelo melhor da PJ.


Ah essa PJ. Ajudou a definir minha vida. Ajudou a dar luzes na vida de tanta gente que eu conheço. E é parte fundamental na vida da minha amiga. Não tenho dúvidas que o método, a espiritualidade, a formação integral, os processos de revisão de vida e de prática, a vida de comunidade, as assembleias, seminários, os grupos de base pelos quais passou, as coordenações que conheceu, as assessorias que passaram por sua vida, os enfrentamentos que realizou, as concessões que fez, o diálogo necessário, tudo isso ajudou com que ela fosse hoje a pessoa que é. E creio mais. Creio que tudo isso deu um norte para que ela possa avançar e crescer ainda mais como mulher, como cidadã, como seguidora de Jesus.

Há coisas que são dela e disso eu sei por que é notório. Ela é muito organizada. Sempre anota. Tem documentos à mão, ao alcance de um papel ou de um clique. Ela não tem medo de reclamar, mas sabe que tem mais facilidade de fazer isso quanto maior for a intimidade com a pessoa. Ela é teimosa. Discute, argumenta até ver que não tem mais jeito. Às vezes já venceu pelo cansaço. Às vezes foi convencida por argumentos melhores. Às vezes ela estava mesmo com a razão.

Eu olho para ela e vejo dedicação, esforço por aquilo que esteja fazendo e pelo serviço abraçado. Empenha-se para ter perto de si pessoas importantes na sua história. Hoje, recorrentemente, eu me deparo com fotos suas com amigos de longa data, sorrindo, comemorando e celebrando a vida.

Sim, o sorriso. Claro que cativa, abre portas, inicia conversas, favorece o diálogo e a escuta. É bonito de se ver e harmoniza com todo o conjunto da obra. E, graças a Deus, você não é só sorriso. Se com ele você consegue se aproximar e iniciar um primeiro contato, depois dele você tem a chance de mostrar seu conteúdo, sua argumentação, seus pontos de vista, com propriedade, firmeza e ternura.

Eu me dei conta agora. Comecei este texto falando de você e estou agora falando com você. Poderia ser um erro de estilo, e até pode sê-lo, mas é totalmente justificável. Enquanto escrevo e me lembro de você, sua imagem vem a minha frente e sua voz é nítida. Não é só memória boa, como você poderia pensar, mas as situações pastorais que passamos juntos fazem com que eu guarde tudo na cabeça e no coração.

Num tempo em que muito se fala em feminismo, empoderamento, gênero, racismo, xenofobia, drogadição, corrupção, por exemplo, teu discurso é coerente com a tua prática. Você discursa pela igualdade de direitos e age por esta causa. Você discursa por um mundo onde existam mais pontes do que muros e demonstra isso. Você fala de vida plena e se esforça para torna-la concreta para outras tantas pessoas. Você não admite jeitinhos e se enfurece com quem cai ou conduz situações antiéticas. Seu testemunho é cristão.

Você tem lado, admite e demonstra. Lado todo mundo tem, mas nem sempre admitem perante outros. Pior, dão chamadas, ofendem e acusam quem admite. Você sofreu com isso. Mas se manteve firme, tal qual a casa construída na rocha. Aprendeu com Jesus.

Sua fama chegou primeiro que nosso primeiro contato. Ouvi falar bem de você. As redes sociais foram nosso primeiro contato. O curioso foi que na primeira vez que nós estivemos próximos num evento pastoral, mal trocamos duas palavras, dada a correria do momento, você com uma tarefa e eu com outra. Depois é que pudemos sentar e conversar bem. Você se lembra, não é?

Volto a falar com os outros leitores sobre você. Disseram uma vez que amigo é aquele que mesmo quando você fica longe, sem se ver ou conversar por algum tempo, quando se reencontram a conversa volta a fluir naturalmente, como se tempo e espaço não fizessem diferença. É assim que eu me sinto em relação a ela. E creio que seja assim que ela se sinta em relação a mim.

Seja você pejoteiro, pejoteira ou não, torço que tenha amizades assim. De gente que você admire, que aceite ajuda, que seja exemplo, que troque ideias, que te respeite, que te incentive a sonhar mais, que você possa abraçar forte e sorrindo. Que seja companhia na caminhada rumo à utopia, ao sonho maior. Que seja colo e ouvidos. Que sejam falas sinceras. Nem que sejam apenas pelos olhares.

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