sábado, 17 de fevereiro de 2018

De onde veio a Juventude?

Gosto muito de etimologia. Saber de onde as palavras vieram, como se estruturaram, qual era o seu sentido original e como ele foi mudando através do tempo. Entender isto pode ajudar a modificar alguns conceitos e preconceitos.
Por esta razão fui atrás da palavra Juventude. Para nós da PJ é algo que vai além da mera curiosidade. Quando falamos do próprio nome, saber o seu significado e os sentidos que lhe foram atribuídos é falar de nós mesmos, da nossa origem e de quem somos e de quem podemos ser.


Juventude vem do Latim Juventus (ou também Juventa). Segundo um dos relatos da mitologia romana, Juventa era uma ninfa a quem o poderoso Júpiter (o Zeus dos romanos) acabou por transformar numa fonte, cuja água milagrosa restituiria a juventude a quem dela usasse. Lembra a história da fonte da juventude? Este é um dos relatos de sua origem.

Machado de Assis fala de tais águas no livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, quando se refere a tal fonte e às águas que brotam dela e seus efeitos de devolver a vida aos corpos falecidos.

Recuou o sol, sacudi todas as misérias, e este punhado de pó, que a morte ia espalhar na eternidade do nada, pôde mais do que o tempo, que é o ministro da morte. Nenhuma água de Juventa igualaria ali a simples saudade”.

Quando olhamos a mitologia grega também encontramos uma divindade relacionada à Juventude: era a Deusa Hebe. Ela era filha de Hera e Zeus. Hebe é a Deusa das noivas jovens e fora oferecida pela sua mãe a Herácles (“equivalente” ao Hércules romano) em casamento, depois que ele superou os obstáculos que Hera colocou em seu caminho. Do nome Hebe vem a palavra hebiatra, que é o médico especialista no tratamento de adolescentes.

O mito conta que Hebe portava as taças das bebidas no Olimpo, transportando-a durante os banquetes dos Deuses, enchendo as suas taças quando estas se esvaziavam. No entanto, certo dia, ela entornou acidentalmente um pouco de ambrósia sobre um Deus e foi imediatamente removida do cargo.

Há um paralelo entre as duas deusas da juventude. Por alimentar os Deuses, Hebe poderia ser considerada também como a Deusa da Imortalidade, pois com estes alimentos eles não envelheciam. Neste sentido, é de se acreditar que os mortais também a ela recorriam para poderem manter uma aparência jovem.

Um último detalhe sobre a história de Hebe é que seu culto e sua lembrança normalmente estava associado a outra divindade. Com Afrodite sua associação era a beleza, juventude, paixão. Em relação a sua mãe Hera, o cuidado com os filhos. E também sua associação conjugal com Herácles.

Interessante analisar estas duas imagens de Juventa e Hebe. Elas não falavam diretamente à figura do jovem, mas a um ideal de juventude. Juventa se “tornou” uma fonte que restituía as forças vitais a quem bebesse de suas águas. Ou seja, não falava aos jovens, mas a quem estava velho, cansado ou debilitado.

Hebe, embora fosse uma deusa, era uma serviçal dos demais deuses. Segunda categoria, poderíamos dizer. Cometeu um deslize e foi substituída. Da mesma forma que Juventa, Hebe também tinha como representação mítica ser aquela que mantinha a jovialidade dos demais deuses e seu culto mantinha esta mesma relação.

Por fim, resgatemos aquele último detalhe de Hebe, pois este a torna mais interessante. Ela não era tão popular individualmente. Era sempre lembrada em referência a outra divindade. É aquela que é Deusa, mas não é uma Afrodite, uma Hera e nem um Herácles.

Penso o quanto estas intuições originais ainda estão presentes hoje em dia e o quanto é importante ressignificá-las. Percebam a necessidade de se entender que a juventude é mais do que uma representação simbólica de força e vigor, ou uma categoria de segunda classe, serviçal, substituível, mantenedora de um status quo que não muda nunca.

E, pior, dificilmente é considerada como uma categoria, mas sempre estar em referência a outras: jovem é aquele que não é mais criança, aquela que ainda não é adulta, quem que não está pronto, que está em transição. Ser jovem é ser mais do que isto tudo. 

Por isso são necessários novos conceitos! Olhar a etimologia nos dá a origem da palavra, seu passado e um pouco de sua história. É importantíssimo compreender isso. Mas o futuro ainda está em construção. E ainda bem que a linguagem é algo extremamente dinâmico.

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